Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Ciro Gomes (PDT/CE) não deve ser o plano B de Lula, mas tem buscado reforçar a imagem de ser o mais capacitado para herdar o projeto lulista. Em entrevista à TV Difusora, afiliada do SBT no Maranhão, o pré-candidato do PDT criticou a insistência do PT na candidatura do ex-presidente, preso há mais de três meses em Curitiba, e colocou-se como única alternativa política capaz de absorver seu legado, o que poderia garantir uma conjuntura favorável para libertá-lo.
"Só tem chance de sair da cadeia se a gente organizar a 'carga', botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele, e restaurar a autoridade do poder político. E de novo: com uma tragédia, só resta eu", garantiu.
A entrevista aos maranhenses mostra a complexidade da estratégia do pedetista. No estado, ele conta com a simpatia do governador Flávio Dino, do PCdoB, que o considera o melhor nome para unir a esquerda neste momento. Por outro lado, ele sabe que dialoga com um eleitorado majoritariamente lulista.
Em 2006, mais de 75% dos votos válidos no estado no primeiro turno foram para o petista. No segundo turno, foram mais de 84%. O prestígio do ex-presidente no Maranhão se manteve nas eleições de quatro anos atrás: Dilma obteve mais de 78% dos votos válidos na fase final da disputa, a maior votação proporcional da petista no País.
Concedida em 16 de julho, a entrevista de Ciro foi dada três dias antes de partidos como o DEM, o PR, o PRB e o PP rejeitarem uma aliança com o pedetista e baterem o martelo pelo apoio a Geraldo Alckmin, do PSDB.
Na conversa com o jornalista da TV Difusora, Ciro cita as negociações com o "centrão", chega a elogiar Rodrigo Maia, presidente da Câmara, mas não deixa Lula de fora nem mesmo ao comentar os motivos para a aproximação com o bloco suprapartidário. "A única coisa que eu fiz na prática foi sondar o filho do José Alencar (Josué Alencar, presidente da Coteminas e recém-filiado ao PR), que foi vice do Lula." Hoje, Josué é o preferido de Alckmin para compor uma chapa.
As negociações frustradas com o grupo suprapartidário, que poderia garantir a Ciro um acréscimento significativo de tempo de televisão, obriga cada vez mais o pré-candidato a disputar as alianças dentro da esquerda. Ele tem mantido conversas para um acordo com o PSB e o PCdoB, mas o mesmo movimento é feito pelos petistas. A indefinição do caminho a ser seguido pelo PT caso Lula não possa mesmo ser candidato mantém as legendas do campo progressista em compasso de espera.
Sem o "centrão", Ciro busca dialogar cada vez mais com o eleitorado lulista, cerca de um terço da população que promete votar em peso no candidato escolhido pelo ex-presidente caso este seja impedido de disputar. No lançamento de sua pré-candidatura, o pedetista voltou a reafirmar sua capacidade de herdar o legado do ex-presidente. "Depois de tudo o que houve com o presidente Lula, a responsabilidade de governar por um País melhor aumenta muito, pois sabemos que é possível ser diferente, conectado com o povo".
Na entrevista à TV Difusora, Ciro não deixa de criticar a estratégia de Lula e do PT. Diz que "O Brasil não aguenta um presidente por procuração numa hora dessas". Garante que "todo mundo no mundo político sabe que eles não vão deixar o Lula ser candidato". Por outro lado, questiona a estratégia de encontrar um plano B no próprio partido. "O camarada pode dizer que gosta muito do Lula, mas só por isso, ele vai apontar outra Dilma? O País está num momento difícil, está precisando de pulso, de autoridade".
Ciro pode classificar uma alternativa petista a Lula como um novo "poste", mas não pode negar o potencial de transferência de votos que o ex-presidente possui. Em 2014, Dilma foi reeleita em grande parte pelo contínuo prestígio do petista. A se julgar pelas pesquisas, o ex-presidente ainda detém o condão de transformar um nome pouco conhecido em uma candidato competitivo. Segundo uma pesquisa Datafolha de junho deste ano, 30% dos eleitores disseram que votariam com certeza num candidato indicado pelo petista, e 17% afirmaram que talvez o fariam.
O pedetista afirmou na entrevista à TV maranhense que ajudou Lula "por 16 anos, sem tirar nenhum dia". Certamente não é o que os petistas pensam. Em pelo menos duas jornadas cruciais, essa apoio incondicional não chegou. Na vigília organizada por militantes no Sindicato dos Metalúrgicos contra a prisão do petista, Ciro preferiu não dar as caras e explicou: "Não sou puxadinho do PT e não serei jamais".
Se hoje o pedetista disputa a herança de Lula, ao mesmo tempo não abraçou ela no momento mais simbólico. Ele até pode convencer de forma orgânica parte do eleitorado do ex-presidente de ser o único capaz de dar continuidade ao projeto lulista. Mas sem o apoio do principal cabo eleitoral do País, não será uma tarefa fácil.
Créditos Carta Capital.
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