LULA, O "ESPÍRITO DO TEMPO" E A CENTRALIDADE DA QUESTÂO NACIONAL - POR ELIAS JABBOUR
Existem homens e mulheres que, a seu jeito e historicidade, revelam o, chamado por Hegel, de "zeitgeist". O dito "espírito do tempo". A repercussão da soltura de Lula aqui na Europa e no Brasil coloca Lula como uma das figuras do tempo presente que expressam o atual "espírito do tempo". O atual espírito do tempo é caracterizado pela luta, de vida ou morte, do velho que está a morrer, mas agoniza elevando sua capacidade de violência. É a superestrutura da fase b do ciclo longo que se debate contra o novo.
Fascismo e socialismo voltam à luta aberta conforme já nos alertara Rangel em 1991 ao comentar a invasão do imperialismo a um país situado na fronteira da então URSS, o Iraque. Todos os grandes líderes da extrema-direita no mundo falam abertamente contra o comunismo, o socialismo e a ameaça chinesa. Por outro lado, o socialismo (China) propõe "um mundo de futuro compartilhado" e seu projeto "Um cinturão, uma rota" se aproxima muito da tendência apontada por Marx de aprofundamento da divisão internacional do trabalho via "internacionalização de fatores". Essa internacionalização de fatores pode ser lido como internacionalização da técnica - algo proposto e executado em larga escala pela China, o que pode nos levar a rir quando alguém coloca na roda a possibilidade da China ser um país imperialista.
O velho que luta pela sobrevivência ataca lideranças patrióticas, não necessariamente comunistas. Atacam projetos nacionais autônomos utilizando instrumentos como o lawfare e o dólar como arma de destruição em massa. Lula é a maior liderança política da América Latina dos últimos 30 anos. Afinal ele governou o Brasil, não Cuba. Não é comunista, trata-se de um socialista moderado que governou em conformidade com as leis da política em uma formação social complexa, formando maioria heterogênea. O que para muitos "radicais" é "conciliação" para mim é uma lei da política que herdamos dos lusitanos (transições lentas, graduais e seguras). Lula, caiu em equívocos e ilusões, sendo a principal delas não a aliança com o PMDB (para mim uma aliança fundamental) e sim insistir em Dilma mesmo após todos perceberem que a figura dela jogava abertamente contra nosso projeto, dada sua imensa incompetência em todos os campos.
Lula não foi fundo no que deveria. Mas fez o suficiente para colocar em fúria a direita racista e antinacional, a pequena burguesia radicalizada de "esquerda" e seus partidos (alguns mais parecidos com grupos de estudos). Aproximou-se da China e da Rússia, investiu um bilhão de dólares em Cuba, internacionalizou empresas brasileiras e colocou o pré-sal embaixo dos braços da Petrobrás. Fez muito mais que um socialdemocrata de esquerda poderia ter feito. Foi, e é, um gigante político muito maior, por exemplo, que a maior mediocridade política produzida pelos EUA desde sua independência, Barack Obama.
Lula sai da cadeia com um discurso novo, a meu ver. Coloca a soberania nacional como elemento principal de seu vernáculo. Aproxima-se assim de figuras como Vargas e Gamal Abdel Nasser. O aproxima ainda mais de dois gigantes de nosso tempo, Xi Jinping e Pútin. Ao assumir a nação como núcleo de sua ação política Lula se coloca à altura do tempo presente, torna-se ainda mais capaz de observar além do horizonte (o que não é fácil, pois ele carrega o DNA do hegemonismo petista).
A centralidade da questão nacional e do socialismo é o espírito do tempo e da luta em nossa época. Lula ao assumir o primeiro ponto abre relevo de horizontes. Não subestimemos a sua imagem e sua força. Que ele tenha percebido que a prisão e a morte nos faz pensar no medo do isolamento. A amplitude é a base pela qual a questão nacional se põe como equação política a ser solucionada. Sem amplitude não existe avanço. Ser radical é ser amplo. E o espírito do tempo comporta a dialética entre radicalidade e amplitude. Forma e conteúdo às forças progressistas no Brasil e no mundo.
Créditos Elias Jabbour - Fonte - https://www.facebook.com/elias.k.jabbour/posts/2625528930803160
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