*”Sem diálogo – Conflito entre Bolsonaro e governadores se acirra”* -
A crise do novo coronavírus escancarou a falta de sintonia entre o governo Jair Bolsonaro e governadores do país. A sexta-feira foi marcada por troca de acusações públicas entre o presidente e os chefes dos Executivos do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e de São Paulo, João Doria (PSDB). Irritado com medidas restritivas impostas por governadores, como o fechamento de fronteiras interestaduais, Bolsonaro acusou os antigos aliados de usurpar suas competências. Em entrevista coletiva, durante a tarde, no Palácio do Planalto, o presidente afirmou:
— Lamentavelmente tem um governador de Estado que só faltou declarar independência do mesmo, como se não fizesse parte da Federação — disse Bolsonaro, numa clara referência a Witzel.
Na noite de quinta-feira, o governador do Rio anunciou medidas para tentar conter o avanço da Covid-19. A principal delas é o fechamento dos limites da capital. A ideia é criar um cinturão de proteção para evitar que os transportes públicos levem passageiros de outras regiões para a cidade do Rio. A partir de hoje, estão proibidas também visitas a praias, rios e pontos turísticos da cidade, como o Pão de Açúcar e o Corcovado. Witzel reagiu à crítica de Bolsonaro no mesmo tom, indicando, mais uma vez, unidade dos governadores. Ele reclamou da falta de diálogo com o Palácio do Planalto e disse que as medidas adotadas em seus Estados são reflexo da falta de atuação de Bolsonaro no combate à pandemia.
— São os nossos hospitais que serão impactados e o governo federal ainda em passo de tartaruga. Só fiz o decreto para que o governo tome ciência das medidas que precisam ser adotadas e, de uma vez, acorde. É necessário acabar com essa atitude antidemocrática e ouvir os governadores — disse Witzel à Globonews. O governador de São Paulo, João Doria, também reagiu. Afirmou estar fazendo o que o presidente não faz: “liderar”. E que, quando o presidente “faz, faz errado”.
"RIO NÃO É OUTRO PAÍS”
Mais cedo, na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro já havia reclamado do que chamou de “medidas extremas” e dito que “parece que o Rio de Janeiro é outro país”. Segundo ele, as ações levam pânico à população, prejudicam os mais pobres, podem causar saques e provocar um colapso do setor produtivo.
— Estão tomando medidas, no meu entender, exageradas. Fecharam o aeroporto do Rio de Janeiro. Não compete a ele, meu Deus do céu! A Anac está à disposição, é uma agência autônoma que está aberta para todo mundo, para conversas. Eu vi ontem um decreto do governador do Rio que, confesso, fiquei preocupado. Parece que o Rio de Janeiro é um outro país. Não é outro país. Você tem uma federação —afirmou Bolsonaro.
A contrariedade do presidente com os atos de governadores se estendeu por todo o dia. Em videoconferência com um grupo de empresários durante a tarde, diretamente do Palácio do Planalto, ele afirmou que o governo vai colocar um “freio” nas medidas dos Estados. Bolsonaro prepara uma reação às críticas e às ações dos governadores. Segundo o GLOBO apurou, o Palácio do Planalto pretende “ordenar” a situação em todo o país, garantindo o funcionamento de serviços e atividades consideradas essenciais. O governo pretende ainda evitar que medidas unilaterais sejam adotadas pelos governos estaduais sem o conhecimento de Bolsonaro. Auxiliares do presidente estão analisando a possibilidade de, por meio de decretos ou medidas provisórias, determinar a garantia da circulação entre estados de modo a evitar colapso nos sistemas de saúde, segurança, abastecimento e logística. Além do Rio, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), anunciou ontem o fechamento das divisas para ônibus, além de ter declarado estado de calamidade. A avaliação no Planalto é a de que, ao tomar medidas individualmente, os governadores incentivam o confronto num momento que exige responsabilidade e serenidade. Apesar dos ataques mútuos, auxiliares de Bolsonaro têm atuado para tentar pacificar a relação com os estados. A ideia é que o ministro da Casa Civil, general Braga Netto, coordene ações conjuntas. Bolsonaro tem dito a auxiliares que os governadores têm atuado em conjunto visando às eleições presidenciais de 2022. Tanto Witzel como Doria são apontados como possíveis candidatos ao Palácio do Planalto.
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De seu lado, governadores se organizam para pressionar o governo federal por mais recursos e ajuda no combate à pandemia. Chefes de Executivos dos sete estados das regiões Sul e Sudeste vão se reunir por videoconferência na próxima segunda-feira para discutir e trocar experiências sobre o coronavírus e discutir medidas que possam ser tomadas para enfrentar a crise. Já governadores do Nordeste fizeram uma reunião virtual ontem e aprovaram um documento conjunto em que cobram do governo federal a suspensão dos cortes no programa Bolsa Família na região. O grupo pede ainda recursos para a saúde a suspensão de dívidas dos estados com a União. Na reunião, ficou definido ainda que os governos estaduais farão compras coletivas de equipamentos e insumos necessários para o enfrentamento à Covid-19. Rui Costa (PT), governador da Bahia, também decretou situação de emergência no estado e tomou medidas para conter a aglomeração de pessoas, como a suspensão do transporte intermunicipal.
—Discutimos as ações para enfrentamento ao coronavírus. Compartilhamos as medidas tomadas por cada estado e tiramos várias medidas e várias ações a serem feitas a partir de agora. Não se justifica nesse momento de calamidade que estamos vivendo o governo federal, só no Nordeste, cortar 96 mil bolsas famílias só nesse mês. É preciso ter alguma sensibilidade social e proteger as pessoas mais pobres —disse Costa.
Créditos FPA
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