A VACINAÇÃO NA CARTILHA DO FMI!
(Editorial - O Estado de S. Paulo, 07) A vacinação é a política econômica mais importante neste momento, disse a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, ao abrir os trabalhos da reunião de primavera. Georgieva e sua equipe continuam refratárias, obviamente, aos ensinamentos e valores do presidente Jair Bolsonaro. Segundo os técnicos do Fundo, é preciso vacinar mais rapidamente e distribuir vacinas a todos os grupos sociais e a todos os países. Essa é uma condição básica, argumentam, para uma retomada econômica segura. O avanço na imunização – e no enfrentamento de novos surtos e variantes do coronavírus – é um dos pressupostos das projeções divulgadas pela economista-chefe da instituição, Gita Gopinath, e por outros diretores. Reduzir as desigualdades sociais e internacionais, agravadas desde o ano passado, será um dos principais desafios, de acordo com os novos cenários e recomendações.
A economia global crescerá 6% neste ano e 4,4% no próximo, segundo as projeções apresentadas no recém-divulgado Panorama Econômico Mundial. Os cálculos anteriores, anunciados em janeiro, indicavam expansão de 5,5% em 2021 e 4,2% em 2022. A previsão de crescimento para o Brasil pouco mudou, passando de 3,6% para 3,7% neste ano. Para 2022 foi mantida a estimativa de 2,6%. Para os anos seguintes a expectativa é de um desempenho mais fraco. A taxa de 2% apontada para 2026 corresponde ao modesto potencial produtivo estimado para o País e associado, em outras publicações do FMI, ao baixo investimento em máquinas, equipamentos e infraestrutura, à escassez de capital humano e à baixa integração nos mercados globais.
Ao estimar um crescimento de 3,7% para o Brasil, neste ano, os técnicos do FMI podem parecer mais animados que muitos economistas brasileiros. No Brasil, analistas do mercado projetam expansão econômica de 3,17% em 2021, segundo o boletim Focus do Banco Central (BC). Mas a percepção das limitações é muito parecida.
As projeções da pesquisa Focus indicam expansão de 2,33% no próximo ano e de 2,50% nos dois seguintes. Esses 2,50% correspondem ao potencial de crescimento estimado comumente, muito inferior ao de outros emergentes. Muitas dessas economias, incluídas várias sul-americanas, acumularam expansão bem maior que a do Brasil nos últimos 10 a 15 anos. O Brasil aparece mal, novamente, nos grandes cenários publicados pelo FMI. Será um dos poucos países do hemisfério ocidental com desemprego em alta neste ano (de 13,2% em 2020 para 14,5% em 2021). Pior que a economia brasileira, nesse quesito, só a venezuelana, com taxas acima de 55%. Além disso, a inflação média projetada para o Brasil deve chegar a 4,6% neste ano, superando os números estimados para Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Paraguai.
O aumento da expansão mundial projetada para 2021, de 5,5% para 6%, está longe de caracterizar um surto de otimismo. A mudança da estimativa global decorre basicamente da melhora das perspectivas dos Estados Unidos e do bom desempenho esperado da China. O Produto Interno Bruto (PIB) americano deve crescer 6,4% neste ano e 3,5% no próximo. Os cálculos anteriores indicavam 5,1% e 2,5%. No caso chinês, a projeção para 2021 foi elevada de 8,1% para 8,4%. A previsão para 2022 foi mantida em 5,6%.
Essas novas estimativas são insuficientes, no entanto, para eliminar alguns dos maiores problemas. As taxas de crescimento serão muito divergentes, com desempenho modesto para a maior parte das economias emergentes, incluída a brasileira, e em desenvolvimento. Além disso, a vacinação avança de forma desigual, o desemprego permanece elevado e a pobreza aumentou em muitos países. No Brasil, a corrida em busca do novo auxílio emergencial mostra a gravidade do quadro. Um eventual aumento de juros no mundo rico poderá criar complicações muito sérias. Será essencial, portanto, manter estímulos fiscais, com atenção ao foco das despesas, e políticas monetárias estimulantes. No Brasil, nem o Orçamento federal está em condições de ser executado de forma normal e segura. |
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