Correios um Instrumento de Cidadania
01.
Os Correios do Brasil contam
com mais de
350 anos de existência formal e tem um papel social concebido constitucionalmente. A
capilaridade dessa empresa nacional é
um dos principais fatores de sua inquestionável relevância social para o Brasil, pois
os Correios, contribuem, assim - e muito - para a integração
de um país continental como o nosso. Por mais que o atual governo Bolsonaro
não queira reconhecer, os Correios são estratégicos para
o Brasil. Os Correios estão em todos os 5.570 municípios brasileiros e, diariamente, através dos
carteiros, sob chuva ou sob sol,
visitam os mais de 70 milhões endereços
no país. Com isso, os Correios não são somente
uma empresa entregadora de cartas e encomendas, mas também,
principalmente, uma instituição que leva cidadania
e dignidade a todos as brasileiras e brasileiros.
02.
O setor postal brasileiro, assim
como os sistemas postais
de outros países, não se destaca apenas
pelas mudanças recentes pelas quais vêm passando, mas também
por atuar como
uma reconhecida “rede
de serviços públicos”. Considerar os serviços postais
como rede de serviços públicos
implica reconhecer que em alguns lugares
a infraestrutura postal – agências, caixas de
correios, postos de distribuição postal, etc. - é o único elemento que atesta a presença física do Estado
brasileiro em determinadas localidades do nosso imenso território nacional. Essa presença é
particularmente importante para regiões pobres e afastadas
que enfrentam sérios problemas sociais
e que são abandonadas e negligenciadas por empresas da iniciativa privada. A verdade é que, se o Estado não
estiver presente nessas localidades -
por meio dos Correios, propiciando a
integração - o desenvolvimento e a modernidade
não chegarão em muitas cidades ou, quando chegarem, já estarão
muito atrasados.
03.
Certamente o Presidente Jair
Bolsonaro não deve receber cartas pelos Correios. No
entanto, a maioria maciça da
população brasileira as recebe. É sempre
bom lembramos que nos últimos anos, por obras
dos governos liderados
pelo Partido dos Trabalhadores
- PT, mais de 40 milhões de brasileiras e brasileiros ascenderam à classe média. Com isso,
pessoas até então excluídas socialmente, passaram a ter contas em bancos, cartão de crédito, smartphones, TV a
cabo e internet; ainda, essas brasileiras e brasileiros puderam
ingressar em faculdades públicas e particulares, entre tantos outros inúmeros benefícios;
puderam realizar compras
de livros e outros bens
de consumo pelo comércio eletrônico (e-commerce), que, diga-se de
passagem, se expande a passos
largos neste país. Em decorrência dessa
grande transformação social, inúmeras correspondências escritas
e encomendas são geradas e tramitam cotidianamente pelo sistema postal
brasileiro. Ou Seja,
boletos, faturas, cartões
bancários, encomendas e propagandas
são entregues diariamente pelos Correios brasileiros,
em cada lar, em cada empresa deste país continental.
04.
A quantidade diária de objetos
postais é gigantesca. Os números dos Correios são extraordinários:
mais de 4 bilhões de unidades de correspondência
escrita, por exemplo, são entregues todo ano, pelos Correios,
a preços acessíveis, porque o objetivo
dessa gigantesca empresa
é, prioritariamente, garantir
o direito de cada cidadão
em ter acesso aos serviços
postais. Os carteiros são, talvez, a categoria profissional mais próxima dos lares dos brasileiros.
05.
Um
outro aspecto que também merece destaque
é que os serviços de correios se caracterizam
por ser um setor em que a mão de obra é largamente utilizada, o que tem garantido o emprego e
a renda de muitos trabalhadores
brasileiros. Nessa toada, é muito provável que mudanças no setor postal terão significativas implicações sociais e políticas. Denota-
se, portanto, o caráter “politicamente delicado” e imprescindível das atividades postais neste país.
06.
De forma resumida, podemos descrever
o atual papel assumido pelos
Correios no Brasil,
a partir de iniciativas como:
a) Grande integrador da
economia nacional atuando em mais de
5.500 municípios, além de ser agente ativo na
garantia da soberania nacional, pois em diversas localidades atua praticamente sozinho como representante do Estado Brasileiro;
b)
Produz receitas da ordem de R$ 19
bilhões/ano, aproximadamente 0,33%
do PIB Brasileiro;
c) Garante
o direito constitucional da universalidade do
serviço postal;
d) Pratica preços justos nos serviços de correspondência: as tarifas do serviço postal brasileiro
estão dentro das faixas mais baixas do mundo
(num setor com tendência à oligopólio quando
executado pelo setor
privado);
e) Atua como agente
regulador de preços no mercado concorrencial (encomendas), garantindo preços similares em mercados desenvolvidos ou
não, além de garantir o serviço nas localidades carentes,
microempresas entre outros;
f) Garante preços de serviços
reduzidos para localidades afastadas e de pouca viabilidade econômica;
g)
Disponibiliza serviços bancários a
municípios de baixa renda
possibilitando a circulação de recursos na
localidade, além de efetuar pagamentos do INSS, frentes de trabalho,
entre outros;
h) Garante cidadania
ao disponibilizar serviços
públicos para a população como os serviços de registro de CPF, distribuição de urnas eleitorais, distribuição de livros didáticos,
recolhimento de leite materno,
serviço militar, correspondência judicial, entre outros;
i) Emprega mais de 115
mil empregados, permitindo o sustento de quase 400 mil pessoas
entre empregados e familiares.
07.
A
modernização dos Correios,
diferentemente do que vem sendo dito pelo Governo Bolsonaro, está em andamento desde 2011. Em setembro daquele ano, foi sancionada a lei 12.490
e, a partir desse marco, foi aprovado
o novo estatuto social da estatal,
permitindo sua modernização e fortalecimento
como empresa pública. Na prática, essa importante alteração legal possibilita que os Correios ampliem sua atuação para o exterior; possam atuar no segmento postal
eletrônico, financeiro e de logística integrada; possam firmar parcerias comerciais que agreguem
valor a sua rede e a sua marca e
possam participar como sócios minoritários
de outras empresas e até mesmo constituir subsidiárias.
Além disso, a lei estabeleceu obrigações que
aprimoraram a governança corporativa da empresa, que passou a ter uma Assembleia Geral e suas demonstrações financeiras auditadas por auditores
independentes, desde
que registrados na Comissão de Valores Mobiliários - CVM.
08.
A situação econômica atual dos
Correios é superavitária, mesmo com a crise da COVID19; os resultados
obtidos pela empresa durante a pandemia, divulgados
até o momento atual(março de 2021) tiveram insignificante queda
das receitas totais
e a expressiva queda
das despesas, resultando num superávit acumulado até julho de 2020 na ordem de R$ 613,61
milhões; embora a direção da empresa não tenha divulgado
os resultados acumulados de 2020, se
mantida a mesma tendência do 1º semestre,
até o final de 2020, deverá consolidar os resultados com R$ 1,1 bilhões de lucro, aproximadamente.
09.
Assim, descontruindo a retórica de
que os Correios são uma empresa
dependente do tesouro
nacional, a instituição é superavitária e, portanto, geram lucros que, além de serem utilizados
na sua modernização, são transferidos
à União na forma de dividendos.
10.
Ainda, considerando os recentes
movimentos do governo Bolsonaro - insistir no projeto de privatização dos Correios - é
importante registar que manter o
serviço postal é, por força da Constituição
desta República, competência exclusiva da União,
consoante dispõe o artigo 21, X da nossa carta
política.
11.
O serviço postal, portanto - por predileção do constituinte originário -
detém natureza jurídica de serviço público.
Se o entendimento fosse
diverso, não haveria previsão
constitucional definindo a manutenção da atividade postal como
uma competência exclusiva da União. Simples assim!
12.
Com isso, qualquer ação do governo
Bolsonaro que se proponha a modificar o atual status- quo vigente, deverá ser debatida por meio
de processo legislativo especifico de
emenda à Constituição, à luz do
previsto no artigo 60 da CF/88.
13.
Diante de todo o exposto, o
argumento utilizado pelo governo Bolsonaro - que o Projeto de Lei entregue ao parlamento visa aperfeiçoar o
arcabouço legal do setor postal, com
vistas à abertura econômica do
mercado e à garantia da prestação do serviço postal universal - não passa de um mecanismo para ludibriar o Congresso Nacional e, por conseguinte,
a sociedade brasileira.
14.
Então, sociedade brasileira, não
deixemos que esse Governo privatize
os Correios brasileiros. Se o governo
Bolsonaro viabilizar essa ideia estará
entregando a interesses escusos uma das mais cidadãs das empresas públicas
brasileiras.
15.
Vamos, juntos, dizer NÃO À PRIVATIZAÇÃO DA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS.
Autores:
Fábio Souza de Oliveira
Diretor ANATECT e empregado dos Correios)
Omar
de Assis Moreira
Aposentado dos Correios)
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