Provavelmente hoje essa é a pergunta que mais passa na cabeça, não só de petistas, mas de aliados, militantes da ultra esquerda e bem provável até de setores da direita reacionária.
Para entender o porque é necessário voltar um pouco na história.
O PT surgiu da luta, da disputa e do embate, construiu a si e a sua imagem negando acordos e negociatas.
Esse é um dos motivos pelos quais durante anos foi “acusado” de radical, seja pela defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, seja pelo rigoroso critério que estabelecia para fazer alianças eleitorais e mesmo pela sua recusa em participar de governos fora de seu restrito campo de alianças partidárias.
Entre 1994 e 1998, parcelas importantes do partido começam a rever essa política rigorosa de alianças políticas e eleitorais.
E assim, em 2002, o PT rompe a sua tradição e, explicita ou implicitamente, faz uma aliança com parcela do grande empresariado nacional, com José de Alencar do extinto Partido Liberal na vaga de vice e com a famosa Carta aos Brasileiros, onde firma seu compromisso programático com pontos de interesse do grande capital.
Após sua posse, o Governo Lula e o PT aprofundam essa política de acordos, trazendo para o governo partidos historicamente adversários do PT e mesmo de direita; tratava-se de garantir a governabilidade na base dos acordos, o que levou, inclusive, ao episódio da AP 470, o chamado “mensalão”.
Porém essa política de acordo pressupunha que o grande capital, a burguesia nacional, os grandes empresários, banqueiros, entre outros mantivessem e ampliassem suas margens de lucro: essa é a “base” real, o fundamento que faria sustentar esses acordos.
Isso só foi possível com um cenário econômico, inclusive internacional, que possibilitaram aos Governos Lula 1 e 2 e em menor escala ao governo Dilma 1 fazer duas coisas simultâneas: garantir a lucratividade e ao mesmo tempo políticas públicas e sociais que possibilitaram a redução da pobreza, inclusão social de milhões de brasileiros entre outros avanços.
O problema é que, sejam quais forem os motivos, o cenário econômico já não é tão mais favorável, vivemos uma crise cíclica, como é praxe do sistema capitalista, e portanto não é mais possível garantir simultaneamente os lucros dos grandes capitalistas e o ritmo de investimentos nas políticas sociais. É necessário escolher onde cortar.
Havia e há várias formas de ajuste. O governo escolheu cortar do nosso lado. E o problema é que, mesmo cortando do lado “errado”, o seja, das políticas públicas e sociais, a elite e o grande capital aproveitam a onda de impopularidade fruto principalmente dessa política econômica equivocada para tentar livrar-se de vez do PT e seus governos.
No campo político, a direita conta com um cenário contrário ao PT por coisas que o próprio PT e o Governo deixaram de fazer em cenários muito mais favoráveis, entre essas “coisas” destacamos a reforma política, a democratização da mídia, o imposto sobre grandes fortunas, a reforma agrária entre outros.
Mas de forma quase inacreditável, a maioria do PT e do Governo é incapaz de compreender essa lógica e esse raciocínio relativamente simples, e continuam apostando em acordos e mais acordos.
São incapazes de operar na lógica de (qualquer) embate ou confronto.
Apostam TODAS as fichas em uma única saída: a do “acordismo”.
Isso explica iniciativas constrangedoras, como a mal explicada suposta tentativa de reunião entre Lula e FHC; a fé de que uma reunião com os governadores poderia acalmar a situação e mais recentemente as declarações patéticas do Ministro Mercadante, onde reconhece erros do governo, elogia o PSDB e propõe um pacto de governabilidade, entre outras tentativas de diálogo com o lado de lá.
Não entenderam que o objetivo da direita não é o de fazer uma oposição construtiva e de salvar o país, mas sim o de aniquilar e exterminar o PT e a esquerda, enterrar de forma definitiva as suas organizações e sua experiência histórica.
Não entenderam que tentar o diálogo com essa gangue do ódio seria o mesmo que um judeu propor um acordo com o regime nazista.
Lamentavelmente estão convencidos de que é possível fazer acordos com um inimigo que quer destruí-los, mantêm-se inabaláveis na crença de rejeitar qualquer disputa ou embate, ignoram completamente a necessidade de mudar a política econômica para reconstruir sua própria base.
Enfim, é esperar para ver se manterão essa política suicida até o fim, ou seja, se entregarão o governo e verão o aniquilamento do PT sem luta e sem reação, na vã esperança de um acordo que nunca virá para salvá-los.
Créditos - José Castro Veiga - Página 13.
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