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De verde e amarelo - análise do 7 de setembro - por Gilberto Menezes Côrtes/JB

Coisas da Política

08/09 às 11h14

De verde e amarelo

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Jornal do BrasilGILBERTO MENEZES CÔRTES, gilberto.cortes@jb.com.br  
Em 1992, Fernando Collor, acossado por denúncias de um irmão e de auxiliares, que lhe custaram o processo de impeachment e a sua renúncia mal iniciado julgamento, apelou no 7 de Setembro para o patriotismo. Para que todos vestissem o verde-amarelo. O desafio daquele que dizia ter “aquilo roxo” saiu pela culatra. A maior parte dos brasileiros vestiu preto ou pendurou tecidos pretos nos carros ou nas janelas dos apartamentos.
Vinte sete anos depois, o presidente Jair Bolsonaro, em queda na aprovação popular, repetiu o gesto em dose dupla. Na véspera, disse que “era imbroxável”, ampliando o leque de imagens escatológicas a que tem recorrido. E convocou seus apoiadores a vestir verde e amarelo nos desfiles de 7 de Setembro e na Semana da Pátria, para a qual conquistou a adesão das principais cadeias comerciais na promoção de ofertas especiais.
Como os brasileiros não perdem uma pechincha, a antecipação da Black Friday de novembro para setembro será aproveitada por muitos. Pena que o alcance do consumo, que poderia ser reforçado pela liberação de R$ 500 do FGTS, fique limitado pelo fato de que mais de 60 milhões de brasileiros estejam com nome sujo no SPC e Serasa. O alento não deve evitar que o PIB cresça menos que 1% este ano (Bradesco e Itaú renovaram esta semana a previsão de aumento de 0,8% e rebaixaram a projeção de 2020 para abaixo de 2%).
Neste caso do endividamento a culpa é do estrago econômico feito pelo 2º governo Dilma. A recessão recorde de 2015 e 2016 dobrou de 6,5 milhões para 13 milhões o contingente de trabalhadores desempregados. E deixou mais de 25 milhões desalentados, porque a economia não reagiu o suficiente para recuperar os postos de trabalho perdidos nos pouco mais de 30 meses de Michel Temer e nos oito meses de Bolsonaro.
Apelar para o patriotismo - o sentimento de orgulho, amor, devolução e devoção à pátria, aos seus símbolos (bandeira, hino, brasão, riquezas naturais e patrimônios material e imaterial, dentre outros) e ao seu povo – tão cultivados por Olavo Bilac no fim do século 19, não resolve a crise. Investimento em massificação do ensino e na qualidade da educação é que geram efeitos extraordinários no desenvolvimento, como provam as experiências da Finlândia e da Coreia do Sul.
O apelo agora do presidente, assim como suas escaladas em relação ao meio ambiente e na agenda de costumes, gerou mais fricção nas redes sociais, acirrando a disputa entre o vestir preto e o trajar verde-amarelo. Nenhum dos dois lados ganhará. Perderá o Brasil, se continuar esse duelo inútil.
O governo Bolsonaro aproveitou a Semana da Pátria para lançar uma de suas promessas de campanha: a profusão das escolas cívico militares no país. A argumentação de que os alunos das 13 escolas militares se saíram melhor do que os oriundos de escolas leigas nos exames de aferição do MEC não é medida de valor. Enfraquecer a escola universal em detrimento das escolas militares, como pretende o atual governo não vai melhorar a educação e a produtividade do trabalhador brasileiro a curto e médio prazos.
Quando defendeu o serviço militar obrigatório e a disseminação de escolas militares pelo Brasil (então uma nação espalhada basicamente pela costa), Olavo Bilac ressaltou: “Nunca fui, não sou, nem serei um militarista. E não tenho medo do militarismo político. O melhor meio para combater a possível supremacia da casta militar é justamente a militarização de todos os civis: a estratocracia é impossível, quando todos os cidadãos são soldados. Que é o serviço militar generalizado? É o triunfo completo da democracia: o nivelamento das classes, a escola da ordem, da disciplina, da coesão; o laboratório da dignidade própria e do patriotismo. É a instrução primária obrigatória; é a educação cívica obrigatória; é o asseio obrigatório, a higiene obrigatória, a regeneração muscular e psíquica obrigatória”.
A pregação da Bilac, um ufanista, estava ligada a dois graves problemas que exigiram a intervenção do Exército e da Marinha (a Força Aérea é do século 20): a Guerra do Paraguai (1864-70) e a Guerra de Canudos (novembro de 1896 a outubro de 1897). Nos dois episódios o recrutamento militar num país que ainda vivia a Escravidão e seus desdobramentos foi enviesado. A nobreza, personificada na figura do Conde D’Eu, marido da princesa Isabel, comandava as tropas brasileiras, lideradas por Caxias e Osório contra o Paraguai de Solano Lopes. Escravos lutaram com a promessa de alforria.
Em Canudos, a brutalidade contra os seguidores de Antônio Conselheiro balançou a disciplina militar. A necessidade de formar patriotas, capazes de se alistar normalmente para a defesa da pátria moveu Bilac na defesa dos colégios militares. O autor do Hino à Bandeira, junto com, o maestro Francisco Braga justificava: “Quero e sempre quis a instrução e a defesa do país pelos livros e pelas armas. Quero a escola dentro do quartel, e o quartel dentro da escola. A segurança das pátrias depende da inteligência e da força: o estudo defendendo a civilização, e a disciplina defendendo o estudo”.
Bolsonaro foi formado em colégios militares. Mas os tempos modernos, com a alta sofisticação dos caríssimos equipamentos militares, uso de satélites e mísseis, exigem alto profissionalismo das forças armadas – profissionais nos Estados Unidos e dos países que compõem as forças da OTAN (nas quais o Brasil entrou como membro associado) – impõem mudança no serviço militar obrigatório.
Outro Olavo, o Olavo de Carvalho, que vive em Virgínia (EUA) e é um dos gurus da família Bolsonaro, já escreveu ter sido, no passado, contra a ideia corrente nos governos limitares de que “só os militares eram patriotas porque só os militares tinham consciência da história da pátria como sua história pessoal”. Olavo de Carvalho, que foi convertido ao patriotismo a partir da sua estada nos Estados Unidos, observa que “a sociedade civil, desconjuntada e atomizada, é anormalmente vulnerável a mutações psicológicas que induzidas do Exterior ou forçadas por grupos de ambiciosos intelectuais ativistas apagam do dia para a noite a memória dos acontecimentos históricos e falseiam por completo a sua imagem do passado”
E acrescenta: dentro destas premissas “não há cultura doméstica, tradições nacionais, símbolos de continuidade familiar. A memória coletiva está inteiramente à mercê de duas forças estranhas: a mídia e o sistema nacional de ensino. Quem dominar esses dois canais mudará o passado, falseará o presente e colocará o povo no rumo de um futuro fictício”.
Não foi coincidência, portanto, que, coroando a semana em que lançou as Escolas Cívico Militares, o presidente Jair Bolsonaro tenha convidado os dirigentes das principais seitas evangélicas do país a ficarem a seu lado no camarote oficial do Desfile de 7 de Setembro, em Brasília. Juntos estavam também os donos das duas redes de mídia que concorrem com a hegemônica Rede Globo: Edir Macedo, da TV Record e Silvio Santos, do SBT. Como reação sutil a este cerco, a Rede Globo tratou de badalar a importância do jornalismo independente e de credibilidade, nos 50 anos do “Jornal Nacional”.

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